7 de fevereiro de 2007

Sobre esquerdas e direitas

Me incomoda um pouco as recentes análises sobre a construção de blocos partidários na Câmara. Concordo, como já escrevi aqui, que existem três blocos principais: PT/PMDB, PFL/PSDB, PSB/PCdoB/PDT. É uma manifestação das intenções dos partidos com vista nas próximas eleições. Um jogo de acumulação de poder e disputa de projetos.

Mas é verdade também que ainda estamos longe de 2008, quanto mais de 2010. Como diria José Dirceu em seu blog, as eleições da Câmara ainda estão mais próximas do que as de 2008/2010. Apesar disso, creio que PSB/PCdoB/PDT tentarão se construir como uma alternativa de esquerda à tradicional liderança do PT.

O que realmente me incomoda, no entanto, é a classificação desses blocos: PT/PMDB é de centro e PSB/PCdoB/PDT é de esquerda. Eu vejo o governo Lula como um governo de centro-esquerda. Não porque vejo o PT como um partido de centro, mas porque vejo a coalizão como de centro-esquerda. Mas isso será necessário para qualquer um que ganhe as próximas eleições. Ou ainda existem dúvidas sobre qual será a posição do PMDB seja lá qual seja o vencedor? É claro que será governista. O PMDB é um partido que sobrevive às custas da máquina partidária. Enquanto não houver uma profunda reformas política e administrativa, continuará sendo um partido necessário em todo e qualquer governo. Talvez até com a presença das reformas continue com muito poder por muito tempo. Por outro lado, alguém acredita que PSB/PCdoB conseguirão governar sozinhos? Precisarão do apoio do PT também, e a coalizão será mantida.

O que difere PT e o bloco PSB/PCdoB/PDT não é ideologia. O PT ainda é o maior partido de esquerda, e sozinho tem mais deputados do que os 71 do dito bloco. Além disso tem profundas ligações com movimentos sociais - posição só ameaçada, a meu ver, pelo PSOL. E mesmo assim em longuíssimo prazo. O que motiva essa divisão na esquerda é a luta pela liderança, pela posição de principal partido de esquerda. Há muito tempo o PT é o grande protagonista neste campo. Os demais partidos vêem uma chance ao fim do governo Lula de realizar uma inversão desses poederes. Para isso, contam com a liderança de Ciro Gomes. Não é uma estratégia burra. A eleição para cargo executivo influi muito fortemente nas eleições proporcionais. A figura de um líder é muito importante em nossa sociedade. Pode ser que dê certo.

O PT, por outro lado, pretende continuar com o apoio do PMDB por algum tempo ainda. É um partido poderoso, e a aliança entre os dois vai ser muito importante para criar uma sustentação governista sólida na Câmara dos deputados. Essa aliança, no entanto, é definida pela posição do PT dentro do governo federal, e não por uma postura ideológica. O PMDB não tem projeto, não é um partido programático. É um partido que desde os anos 80 vive entranhado na máquina pública dos Estados e da União.

Ricardo Berzoini já manifestou o interesse em criar um bloco de esquerda dentro do governo, juntamente com PSB, PCdoB e PDT. Creio ser muito difícil a formação deste bloco. A intenção do PT é continuar na sua liderança, e apesar de estar disposto a ceder espaços, não cederá sua posição. Aconteça o que acontecer, quem ganhar mais votos nas próximas eleições ganhará a liderança. Nesse caso, acho muito difícil que - seja no governo ou na oposição - os partidos de esquerda não voltem a se unir. Vamos ver o que acontecerá.

Agora, se hoje a coalizão PT/PMDB é chamada de centro, gostaria de saber como seria chamada a coalizão de um suposto governo Ciro Gomes. Será que PSB e PCdoB conseguirão acumular forças a ponto de conseguir estabelecer uma direção política de centro-esquerda? Ou será um governo de centro-direita? Na minha opinião, depende de uma coisa somente: do posicionamento do PT. Que ainda é, na minha opinião, o maior partido de esquerda do Brasil.

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